
Confira abaixo a íntegra do artigo de autoria do conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Espírito Santo (TCE-ES), Rodrigo Chamoun, publicado no site de A Gazeta, no dia 30 de julho.
Como deixamos de ser conhecidos como o ‘Espírito Nada Santo’
Em meio ao colapso, emergiu uma destemida frente de resistência. Era preciso combater o sistema. Eu vivi esse tempo. Não li nos jornais. Não assisti nas TVs
Era 2002. O Estado desmoronava. Professores e policiais sem salário. Hospitais em colapso. Escolas sucateadas. Empresários desesperançosos. Servidores humilhados. O Espírito Santo à beira de uma intervenção federal. Era a soma de todas as crises — fiscal, política, administrativa, econômica e moral. Diante de todos nós, erguia-se o “Estado do Espírito Nada Santo”.
Por trás da crise visível, operava a corrupção organizada. Mas, em meio ao colapso, emergiu uma destemida frente de resistência. Era preciso combater o sistema. Eu vivi esse tempo. Não li nos jornais. Não assisti nas TVs. Fui testemunha — e parte — de uma geração de líderes políticos, empresariais e sociais que precisou reescrever, com suor e com coragem, uma nova história para o Espírito Santo.
Não foram tanques nas ruas. Nem polarizações políticas fanáticas e inúteis. A virada histórica baseou-se na rara capacidade de construir consensos, forjada em um ambiente de elevada estabilidade política.
Havia esquerda, centro e direita. Havia embates duros no campo das ideias. Acreditávamos na pluralidade — e sabíamos, com igual convicção, que transformar o adversário em inimigo era tão inútil quanto perigoso. Onde nasce o ódio, morre o consenso.
Eu tive a honra de presidir a Assembleia Legislativa e de mediar embates intensos entre posições ideológicas opostas. Tenho saudades, por exemplo, dos tempos em que deputados como Élcio Álvares, à direita, e Cláudio Vereza, à esquerda, debatiam com paixão temas relevantes, sem renunciar ao respeito mútuo.
Nos últimos 23 anos, as instituições capixabas, lideradas por homens e por mulheres de espírito público, sustentaram com firmeza a independência e consolidaram, com maturidade, uma harmonia institucional rara no país. Construímos consensos sólidos em torno de uma nova cultura: planejamento, responsabilidade fiscal, transparência, integridade e eficiência como pilares permanentes da boa governança.
Foi esse pacto que transformou o Espírito Santo em referência nacional que alia prosperidade econômica, responsabilidade social, preservação ambiental e qualidade de vida.
Há muito a ser feito — e os desafios se renovam a cada ciclo. Mas negar os avanços seria desonesto. Minimizar as conquistas seria injusto. Os fatos estão aí. E, contra fatos, não há argumentos.
O Espírito Santo enraizou a responsabilidade fiscal como valor de Estado. É o único a obter nota A nas finanças por 13 anos consecutivos. Exibe dívida negativa, mantém um Fundo Soberano com royalties do petróleo, lidera rankings de transparência e tem altos índices de investimento público. As políticas sociais avançam ano a ano. E hoje somos o quinto estado mais competitivo do país.
Apesar das inúmeras crises no Brasil, o Espírito Santo se manteve firme. E agora lança o Plano Estratégico ES500 — não como promessa, mas como legado. Uma síntese de tudo o que aprendemos. Um compromisso com as próximas gerações, baseado no diálogo entre Poderes, no protagonismo da sociedade e na parceria com o setor privado.
Rodrigo Chamoun
Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Espírito Santo
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