Prestes a se aposentar, conselheiro Sergio Borges fala sobre seus 50 anos de atividade profissional

Na minha vida, eu tive uma série de missões que Deus foi me dando, inclusive a missão de estudar fora do estado. Me formei engenheiro mecânico em Valadares e logo eu tive um convite da Usiminas. Só que o meu pai tinha ganho a Prefeitura de Guarapari. Ele não achava um engenheiro para ganhar o que a prefeitura pagava. Então eu vim, trabalhei com ele. Fiz pós-graduação de Sistema Urbano, oportunidade que conheci toda a estrutura de uma cidade. Apliquei um pouco lá em Guarapari.

Com término do mandato do papai, eu fui para Cesan. Passei no exame de seleção. Com minha formação, fui chefe da divisão eletromecânica, gerente de departamento. Fui eleito presidente do sindicato dos trabalhadores, onde realizei algumas transformações. Então, quando Camata se elegeu, ele me convidou a ser presidente da empresa. Era 1983, eu tinha 34 anos. 

No dia 13 de março de 1987, o então senador José Ignácio, presidente da Telebras, me convidou para assumir a Telest. Peguei a empresa com R$ 10 milhões de prejuízo, 30 mil telefones para entregar. Fizemos um programa de atualização de gestão com todos os empregados, e mudamos a estrutura da empresa e o jeito de trabalhar. Implementei o mesmo modelo da Cesan. Estávamos em último lugar em desempenho institucional. No ano seguinte já tínhamos entregado os telefones, digitalizamos as centrais, colocamos orelhão com caixa postal, terceirizamos a frota. A Telest chegou no final de 1994 em 8º lugar em desempenho operacional. Instalamos o celular, contra a opinião de muita gente. Diziam que era telefone de rico. E hoje tem mais celular do que gente no Brasil! Pagamos a dívida da empresa. E quando saí, em agosto de 1995, a Telest dava R$ 100 milhões de lucro real.

Havia um tribunal em marcha lenta quando eu cheguei. Na minha sala entraram 11 carrinhos de supermercado com 389 processos atrasados. Tive a oportunidade de participar e contribuir com as administrações que modernizaram o Tribunal, digitalizaram processos, que são agora eletrônicos. Participei de dois planejamentos estratégicos. Na vida é assim. Para ter um pouco, tem que dar um pouco. Vi o Tribunal melhorar, crescer na opinião pública, notei os técnicos mais felizes. Enfrentamos a pandemia com competência, com zelo pelos empregados. Agora faço 10 anos de Casa, com saldo positivo. Tenho também relação boa com o Ministério Público de Contas e autoridades do Estado. Pude usar dessa relação para ajudar o Tribunal de Contas. 

Procurei montar uma assessoria competente, que não me deixasse errar. Porque quando você erra aqui, você prejudica um ser humano. E eu não queria para outros o que fizeram comigo. Então o direito de defesa era pleno. Abri meu gabinete para atender a todos, porque achei que era a minha obrigação. Inclusive para atender e auxiliar no que fosse preciso. Com a equipe, até por já ter administrado empresas, consegui imprimir relação de amizade, competência e respeito. Vou sair com o gabinete zerado de processos. 

Saio do Tribunal feliz. Pude contribuir. Tenho, por esse tempo todo de vida profissional, um caminho sedimentado com as instituições públicas. E prezo minha vida pelo respeito ao ser humano. Aprendi com meu pai e com minha mãe.

Eu entrei aqui concorrendo com 20 pessoas. Passei por um corredor polonês, mas eu sabia que seria conselheiro. Eu tenho fé em Nossa Senhora e ela tinha me falado que a cadeira estava reservada para mim. Durante meu período aqui sofri cargas querendo me tirar do cargo. Mas foquei no trabalho. O desafio foi eu mostrar para quem fez juízo errado de mim, que eu não era aquilo. 

Nenhuma empresa que não valorizar seus empregados, que não se modernizar, não vai a lugar nenhum. Essa sequência que o Tribunal vem tendo, é consequência desse trabalho.

Por onde passei, sempre foi com a filosofia de valorizar, prestigiar a competência dos empregados e servidores. Foi o que fiz aqui. Minha missão aqui está cumprida. Sou grato aos meus filhos, que estão sempre perto de mim, e a toda e equipe que me auxiliou.